quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Homenagem a um mestre



Em meus quase 30 anos de vida passei pelas mãos de vários professores, tive ótimos, bons, maus e péssimos professores, como muita gente também os teve, porém, nessa grande quantidade de professores que tive, existe um que admiro até hoje, ele ministrava aulas de Educação Artística, no Instituto Santa Maria (Colégio dos Freis), em Cáceres. Nós o chamávamos de “Frei Matheus”, como é conhecido até hoje. Professor enérgico, principalmente com aqueles que não queriam saber de nada, ou iam à escola apenas para badernar, alguns alunos o temiam, mas existiam alguns privilegiados, como eu, que conseguiam ver nele além de apenas um professor. Naquele homem havia um educador, um pai, um amigo, um sábio. Eu não tinha medo dele, sentia por ele uma imensa admiração, admirava sua inteligência, sagacidade, dedicação, respeito para com o próximo. Definitivamente, ele conseguia, com amor e disciplina, transformar meninos em homens, alunos em cidadãos.
Como diretor fazia questão de mostrar que os trabalhos realizados por seus alunos eram de grandiosa importância, as pinturas feitas nas aulas de educação artística ficavam expostas por toda escola, e não eram apenas rabiscos em papel, ou desenhos infantilizados, eram belíssimos trabalhos criados pelos alunos, para que os pais e a sociedade em geral os admirassem. Lembro que o Frei chamava os visitantes e mostrava os trabalhos realizados em nossa escola, narrando - apaixonadamente e com uma pericia impecável - cada impressão que tinha da obra.
A decoração da escola também incluía os trabalhos dos alunos, de todas as áreas, vitrais, trabalhos científicos, plantações, projetos de marcenaria tudo feito por suas próprias mãos e com auxilio de seus alunos.
Tenho tantas lembranças boas do meu amigo Frei Matheus, do homem que caminhava todos os dias com seu cachorro Rambo, cachorro esse, querido por todos seus alunos - não existe ninguém que foi seu aluno que não tenha brincado e se divertido com o Rambo.
Quando nos encontrávamos, na rua ou na escola, ficávamos horas conversando, eram momentos tão prazerosos que eu não via o tempo passar, aproveitava cada minuto ao seu lado, pois cada encontro com o Frei Matheus era uma gama extraordinária de cultura e conhecimento que eu adquiria.
Uma coisa sempre me impressionou nesse homem. Ele é um profissional insubstituível, na época em que foi diretor do colégio, era - ao mesmo tempo - diretor, coordenador, inspetor, psicólogo, professor e educador dando conta tranquilamente de tudo que precisava ser feito. Suas aulas eram ótimas; durante o intervalo fiscalizava tudo que acontecia na escola, sempre que ocorria algum problema, entre os alunos, ele aparecia como do nada e o resolvia; nunca deixava de receber um pai para conversar sobre como estava o desempenho do filho na escola; nunca deixava de atender um professor que precisasse de sua experiência; jamais deixou de aconselhar seus alunos. Frei Matheus sabia de tudo que acontecia ao seu redor, de um vidro quebrado a um conteúdo escolar atrasado.
Ensinou-nos muito mais do que trabalhar com cores e pontos de fuga, nos ensinou a apreciar musicas de qualidade com um sistema de som composto por cornetas, um toca fitas e um toca discos de vinil, e se um aluno levasse musica de qualidade para tocar na hora do intervalo ele colocava, nunca me esqueci de quando levei uma fita cassete com uma seleção de musicas da Legião Urbana, Zizi Possi e Laura Pausini, ele colocou para tocar e todos ouviram na hora do recreio.
Se um professor faltasse, ele ia até a sala de aula e trabalhava com os alunos, independente da disciplina, sempre poderíamos contar com sua sabedoria para nos ensinar qualquer tipo de assunto, de ciências humanas a exatas. Brincava com os alunos na hora do intervalo com aquela cordinha que carregava - não me recordo se era a corda de um apito ou coisa assim, mas era muito divertido na época, algumas vezes os meninos formavam uma fila para ver quem conseguia levar mais chicotadas nos dedos da mão com aquela cordinha.
A fanfarra do Colégio dos Freis era a mais esperada de todos os desfiles, famosíssima pela qualidade e disciplina de seus integrantes, seus alunos eram educadíssimos, instrumentistas de qualidade e que respeitam até hoje a história desse ser humano fantástico, que tanto fez pela nossa sociedade.
Eu soube, pelos meus pais, que os integrantes da antiga fanfarra do Colégio dos Freis se reuniram pra prestar uma grande - e merecida - homenagem ao Frei Matheus, espero que ele goste dessa homenagem, e que ainda tenha a oportunidade de receber várias outras, pois é merecedor de todo nosso respeito, carinho e admiração.
A educação em Cáceres deve muito a essa grande personalidade, profissionais de destaque - que hoje cuidam dessa cidade - passaram pelos ensinamentos daquele homem. Médicos, engenheiros, arquitetos, pintores, advogados, professores entre outros tão importantes quanto os citados.
Há tempos espero ter a oportunidade de homenagear esse educador, esse amigo, esse professor que muito me ajudou a ser a pessoa que sou hoje, essa pessoa ética, profissional, e que tenta, ao máximo, repassar seus ensinamentos para futuras gerações.
Obrigado Frei Matheus, obrigado por tudo que realizou em nossas vidas, obrigado por ter compartilhado sua vida conosco, obrigado por se imortalizar em nossos corações.