Em meus quase
30 anos de vida passei pelas mãos de vários professores, tive ótimos, bons,
maus e péssimos professores, como muita gente também os teve, porém, nessa
grande quantidade de professores que tive, existe um que admiro até hoje, ele
ministrava aulas de Educação Artística, no Instituto Santa Maria (Colégio dos
Freis), em Cáceres. Nós o chamávamos de “Frei Matheus”, como é conhecido até
hoje. Professor enérgico, principalmente com aqueles que não queriam saber de
nada, ou iam à escola apenas para badernar, alguns alunos o temiam, mas
existiam alguns privilegiados, como eu, que conseguiam ver nele além de apenas
um professor. Naquele homem havia um educador, um pai, um amigo, um sábio. Eu
não tinha medo dele, sentia por ele uma imensa admiração, admirava sua
inteligência, sagacidade, dedicação, respeito para com o próximo.
Definitivamente, ele conseguia, com amor e disciplina, transformar meninos em
homens, alunos em cidadãos.
Como diretor
fazia questão de mostrar que os trabalhos realizados por seus alunos eram de
grandiosa importância, as pinturas feitas nas aulas de educação artística
ficavam expostas por toda escola, e não eram apenas rabiscos em papel, ou
desenhos infantilizados, eram belíssimos trabalhos criados pelos alunos, para
que os pais e a sociedade em geral os admirassem. Lembro que o Frei chamava os
visitantes e mostrava os trabalhos realizados em nossa escola, narrando -
apaixonadamente e com uma pericia impecável - cada impressão que tinha da obra.
A decoração da
escola também incluía os trabalhos dos alunos, de todas as áreas, vitrais,
trabalhos científicos, plantações, projetos de marcenaria tudo feito por suas
próprias mãos e com auxilio de seus alunos.
Tenho tantas
lembranças boas do meu amigo Frei Matheus, do homem que caminhava todos os dias
com seu cachorro Rambo, cachorro esse, querido por todos seus alunos - não
existe ninguém que foi seu aluno que não tenha brincado e se divertido com o
Rambo.
Quando nos
encontrávamos, na rua ou na escola, ficávamos horas conversando, eram momentos
tão prazerosos que eu não via o tempo passar, aproveitava cada minuto ao seu
lado, pois cada encontro com o Frei Matheus era uma gama extraordinária de
cultura e conhecimento que eu adquiria.
Uma coisa
sempre me impressionou nesse homem. Ele é um profissional insubstituível, na
época em que foi diretor do colégio, era - ao mesmo tempo - diretor,
coordenador, inspetor, psicólogo, professor e educador dando conta
tranquilamente de tudo que precisava ser feito. Suas aulas eram ótimas; durante
o intervalo fiscalizava tudo que acontecia na escola, sempre que ocorria algum
problema, entre os alunos, ele aparecia como do nada e o resolvia; nunca
deixava de receber um pai para conversar sobre como estava o desempenho do
filho na escola; nunca deixava de atender um professor que precisasse de sua
experiência; jamais deixou de aconselhar seus alunos. Frei Matheus sabia de
tudo que acontecia ao seu redor, de um vidro quebrado a um conteúdo escolar
atrasado.
Ensinou-nos
muito mais do que trabalhar com cores e pontos de fuga, nos ensinou a apreciar
musicas de qualidade com um sistema de som composto por cornetas, um toca fitas
e um toca discos de vinil, e se um aluno levasse musica de qualidade para tocar
na hora do intervalo ele colocava, nunca me esqueci de quando levei uma fita
cassete com uma seleção de musicas da Legião Urbana, Zizi Possi e Laura
Pausini, ele colocou para tocar e todos ouviram na hora do recreio.
Se um
professor faltasse, ele ia até a sala de aula e trabalhava com os alunos,
independente da disciplina, sempre poderíamos contar com sua sabedoria para nos
ensinar qualquer tipo de assunto, de ciências humanas a exatas. Brincava com os
alunos na hora do intervalo com aquela cordinha que carregava - não me recordo
se era a corda de um apito ou coisa assim, mas era muito divertido na época,
algumas vezes os meninos formavam uma fila para ver quem conseguia levar mais
chicotadas nos dedos da mão com aquela cordinha.
A fanfarra do
Colégio dos Freis era a mais esperada de todos os desfiles, famosíssima pela
qualidade e disciplina de seus integrantes, seus alunos eram educadíssimos,
instrumentistas de qualidade e que respeitam até hoje a história desse ser
humano fantástico, que tanto fez pela nossa sociedade.
Eu soube,
pelos meus pais, que os integrantes da antiga fanfarra do Colégio dos Freis se
reuniram pra prestar uma grande - e merecida - homenagem ao Frei Matheus,
espero que ele goste dessa homenagem, e que ainda tenha a oportunidade de
receber várias outras, pois é merecedor de todo nosso respeito, carinho e
admiração.
A educação em
Cáceres deve muito a essa grande personalidade, profissionais de destaque - que
hoje cuidam dessa cidade - passaram pelos ensinamentos daquele homem. Médicos,
engenheiros, arquitetos, pintores, advogados, professores entre outros tão
importantes quanto os citados.
Há tempos
espero ter a oportunidade de homenagear esse educador, esse amigo, esse
professor que muito me ajudou a ser a pessoa que sou hoje, essa pessoa ética,
profissional, e que tenta, ao máximo, repassar seus ensinamentos para futuras
gerações.
Obrigado Frei
Matheus, obrigado por tudo que realizou em nossas vidas, obrigado por ter
compartilhado sua vida conosco, obrigado por se imortalizar em nossos corações.